Entrevista OPN
Sou de família pobre. O meu pai trabalhava muito numa gráfica e minha mãe era responsável por procurar clientela. Trabalhei em tudo lá: numa fábrica de gravatas; nas estradas, limpando mato. Mas tive uma infância feliz. Na adolescência, a Alemanha teve movimentos contra a energia atômica, pelo pacifismo. Comecei a participar deles. Aí, surgiu uma catástrofe na África. Milhares de pessoas morrendo de fome. Eu tinha uns 22 anos e despertei pras injustiças sociais. Comecei a mobilizar pessoas da minha comunidade. Mendigava nas ruas, pedindo dinheiro pra cavar poços pra essas populações. Foi o despertar de uma vocação. Eu tinha vontade de trabalhar na Índia. O problema era que a Madre Teresa de Calcutá não tinha e-mail nem telefone... (risos) Mas eu conheci uma pessoa que estudou teologia aqui. Era franciscano. Me interessei e entrei na Ordem dos Franciscanos. Vim porque entrei pra uma ordem cuja província fica aqui no Nordeste. Aí, comecei a estudar teologia e filosofia em Recife. Foi lá que, pela primeira vez, vi crianças morando nas ruas. Vim pra cá (Brasil) em 1986 e vi isso em 1987.
2-Na Alemanha não existiam meninos na rua?
Não. Na Alemanha, existem alguns adolescentes só em algumas cidades de maior porte. Mas criança mesmo, não. Eu nunca tinha visto, por exemplo, uma pessoa mexer no lixo para comer. Uma das primeiras coisas que vi quando aqui foram pessoas na frente dos restaurantes procurando comida no lixo.
3-Foi esse choque que te deu a ideia de criar O Pequeno Nazareno?
Não. O que me deu a ideia foi mais tarde. Em Recife, eu conheci a realidade. A primeira criança que encontrei foi na Praça do Carmo. Lembro como se fosse hoje. Passei e vi ele cabisbaixo e a perna sangrando. Voltei. Disse: “rapaz... tu não tá vendo a tua perna sangrando?”. Ele ficou calado. Eu disse que íamos pra farmácia. Fizemos um curativo. Em geral, quando a gente recebe alguma coisa, diz “muito obrigado”. Ele,