Entrevista com Pierre Bourdieu
Após ser indagado sobre a definição de sociólogo, Bourdieu explicou que a definição de sociologia como sendo “o estudo científico dos fenômenos sociais entre os homens” é irônica tautológica e redundante. Para ele, o sociólogo, como os demais cientistas, tenta estabelecer leis, identificar regularidades e definir os princípios destas.
Quando questionado sobre o que é desigualdade e porque ela existe, Bourdieu disse que esta é um grande problema. Segundo ele, a desigualdade é um problema legítimo, controvertido e do seu ponto de vista muito importante. Para ele o mundo social não é um tipo de movimento permanente, mas sim de estabilidade. Através de técnicas estatísticas, Bourdieu estabeleceu a imobilidade, que possibilita a ciência, pois somente é possível compreender as coisas por meio de constantes. Assim chegou-se na desigualdade: entre os fatores de permanência, há evidentemente transmissão de capital. Essa transmissão de capital se da através da cultura, chamada por Bourdieu de “capital cultural”, onde as famílias passam para os filhos os seus conhecimentos por meio de estórias, livros e até mesmo pela convivência. Bourdieu afirmou que o capital cultural é um recurso raro repartido desigualmente, onde uns têm mais que os outros e que isso leva à vantagens daqueles que o adquiriram em maior quantidade. Outro fator marcante da desigualdade relacionado ao capital cultural é a boa vontade escolar, o que os sociólogos chamam de “docilidade”, (do latim, docilis: que deixa se instruir), exemplo disso é a diferença no êxito das meninas e dos meninos no nível primário, onde as meninas se destacam mais que os meninos por serem mais dóceis, e isso é recompensado. Para Bourdieu, capital cultural é de extrema importância, visto que cada vez mais nas sociedades contemporâneas desenvolvidas a reprodução das desigualdades sociais se faz pela transmissão desse capital. Estudos realizados nos EUA