Ensaio Dom Quixote
Como falar algo novo sobre Miguel de Cervantes quando tantos outros já o fizeram em demasiada quantidade e nos mais variados níveis de qualidade? Falar sobre Dom Quixote é remeter à nossa "loucura interior" e se permitir ser carregado por um livro onde o mundo da fantasia e da realidade são apenas um. Um mundo onde tudo é possível devido à fixação de Dom Alonso Quixano por novelas de cavalaria. Dom Alonso Quixano, um homem de certa idade, origem nobre, cujas posses não eram tão expressivas quanto a de outros. Apaixonado por livros a ponto de ceder áreas de sua propriedade em troca de recursos financeiros para compra destes, vive na província de Mancha, na Espanha. Num súbito ato de "loucura", instigado pelas novelas, toma a armadura de seu bisavô como sua, improvisa um elmo, e sai pelo mundo afora em seu pangaré Rocinante - em sua visão, um alazão - auto-intitulando-se Dom Quixote de La Mancha. Talvez seja pretensioso de minha parte, devido a minha escassez de experiência quixotesca, querer ressaltar o caráter empírico da visão que Cervantes nos leva a crer durante a narrativa deste ícone da literatura. É fato que o empirismo embasa-se em relatos da experiência sensorial, com isso em mente, ressalto tal carácter da obra de Miguel de Cervantes, visto que a narrativa do mundo criado na visão de Dom Alonso Quixano é uma narrativa sensorial, onde através de belas imagens, como a do moinho, Cervantes nos faz crer no maravilhoso mundo da fantasia lunática. Dulcinéia del Toboso, a questão da amada. Talvez senão a mais exacerbada donzela de qualquer épico, Dulcinéia é, indubitavelmente, a personagem mais contraditória do livro, excetuando-se, é claro, o próprio Dom Quixote, mas, uma vez que o protagonista é um ser que vive em uma realidade que se contradiz, era de se esperar que sua amada também o fosse. Dulcinéia, a musa de Quixote, apesar de retratada com uma beleza sem igual por seu "idealizador", assim digo pois a guardadora de