Dom Quixote
Flávia Gonçalves Cordeiro*
“O homem que ri liberta-se. O que faz rir esconde-se”.
(Aníbal Machado--- Cadernos de João)
“O riso não é apenas indício de vitalidade, ele é a própria vitalidade”.
(Vladimir Propp--- Riso e Comicidade)
RESUMO:
Este artigo pretende analisar o riso e a comicidade dentro da obra Dom Quixote de Miguel de Cervantes tendo em vista ser esse tema relevante, atual e interessante na presente obra. O presente trabalho também discutirá os aspectos do riso na sociedade nas suas mais variadas formas de manifestação, bem como será feita a distinção entre rir e sorrir e, ainda, enumerar-se-á os diferentes tipos de riso e os artifícios propiciadores do mesmo. Em suma, o texto cuida do estudo do riso, necessário ser visto como um tema rico e bastante questionado, tudo visando proporcionar uma melhor compreensão da referida obra quixotesca.
PALAVRAS-CHAVE: riso, comicidade, tipos de riso, o risível em Dom Quixote
O RISO E SUAS INTERDIÇÕES: UMA BREVE REFLEXÃO
Rimos de quê? Quem ri? Pode haver diferentes tipos de risos? Quais são os artifícios propiciadores do riso? O livro A obra de François Rabelais e a cultura popular na Idade Média e no Renascimento (1987), de Mikhail Bakhtin, contribuiu de forma especial para a construção deste artigo, uma vez que este livro analisa os quatro séculos de história da compreensão, influência e interpretação de Rabelais. A atitude de cada século em relação ao riso é caracterizada de maneira singular. Na Idade Média o riso adquiriu o tom sério. O Cristianismo primitivo pregava que o riso era uma emanação do diabo, por isso o cristão deve conservar uma seriedade constante. O riso foi tido como vil, subversivo, maligno, proibido. Já no Renascimento, o riso tem uma significação positiva, função criadora. Somente o riso, com seus vários efeitos, pode ter acesso a aspectos extremamente importantes na sociedade. O século XVIII, por