Encrespar
ENCRESPAR
Lorena Cristina
Belo Horizonte
2014
Apresentação
A vida inteira, escutei frases do tipo: por que você não alisa o cabelo?
Você precisa domar essa juba! Com cabelo liso você fica tão mais bonita!
Após pensar sobre todas essas críticas e insultos em relação ao meu cabelo, as minhas raízes e, após ter superado o momento da “transição” quando parei de fazer química e deixei meu cabelo crescer naturalmente
- resolvi entrevistar e fotografar quatro jovens mulheres negras que passaram pelo mesmo processo. Assim, surgiu o projeto Encrespar.
O objetivo é mostrar a força que a mulher tem quando aceita a sua identidade racial. Mostrar também, a simbologia que o cabelo crespo carrega. Qual é o lugar da mulher negra, apesar de todas as formas de imposição de um padrão único de beleza: mulheres brancas na TV, nas passarelas, nas revistas e nos salões de beleza. E a mulher negra? E o cabelo crespo?
Ana, Débora, Izabela e Thaís são as protagonistas desse livro. Elas, assim como eu, foram “orientadas” a esconder, domar e alisar seus cabelos naturais a fim de se encaixarem no padrão dominante. Cansadas de regras sobre como alisar, cortar ou prender seus cabelos, elas assumiram os cachos e nos mostram e contam um pouco desse desafio.
Lorena Cristina
THAIS
Quando era criança, minha família não tinha dinheiro. Por isso, as pessoas falavam que a gente não se cuidava. Mal tínhamos dinheiro para comer, quanto mais para gastar com “vaidade”. Minha mãe sofreu muito preconceito por ter cabelo crespo. Quando nossa condição financeira melhorou, a primeira coisa que ela quis mudar, foi o cabelo. Desde os meus sete anos de idade eu lembro da minha mãe fazendo o uso da química. Quando ela tinha 12, ela alisou o meu também. Eu decidi que queria ter o cabelo liso para sempre e, durante uns quatro anos, não lembro de ter passado nenhum dia sem fazer escova.
Eu não entendia que isso era uma escravidão. Eu achava tão fácil,