Elites e historiografia

3147 palavras 13 páginas
HEINZ, Flávio M. (org.). 2006. Por outra história das elites. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.

ELITES E HISTORIOGRAFIA: QUESTÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS
Luiz Domingos Costa e Julio Cesar Gouvêa

Na introdução de seu trabalho sobre a elite política imperial brasileira, José Murilo de Carvalho (2003, p. 20) comentou: “Se é verdade que a historiografia tende a magnificar esse papel [das elites], seria ingênuo achar que se pode resolver o problema reformando a historiografia”. Tal afirmação refere-se a uma certa resistência, ora maior, ora menor, aos estudos de elites políticas na historiografia e nas Ciências Sociais no Brasil. De fato, a proeminência adquirida pelos estudos que creditam às elites o papel de ator político (e, em certa medida, de “ator histórico”) fundamental, ao longo do século XX, foi responsável pelo advento de inúmeros trabalhos e perspectivas críticas a esse tipo de narrativa (GRYNSZPAN, 1996; BOBBIO, 2002). A simplificação de um rico debate teórico ocorrido nas Ciências Sociais e na História em torno dos modelos de análises centrados nas elites gerou, com o passar do tempo, resistência aos novos estudos sobre elites e ao diálogo com esse tipo de trabalho. Para muitos autores, hoje em dia, o recurso às elites para investigar qualquer dimensão da nossa história muitas vezes é o indício de que algo está errado na análise. As críticas são diversas. De um lado, partem os apontamentos de que o conjunto de trabalhos situados nesse front faz um recorte que desconsidera ou dá pouco peso à outra ponta da realidade social, ou seja, à vida sócio-política dos “de baixo”, aos movimentos sociais, ao associativismo ou a qualquer que seja a manifestação situada fora do universo das elites. De outro lado, o argumento de que o estudo das elites é uma continuação da genealogia daTeoria das Elites, fundada sobre pressupostos por vezes morais dos elitistas clássicos (PARETO, MOSCA E MICHELS). Portanto, não raro, os estudiosos que

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