Elisa Lucinda
Obras:
Amanhecimento
De tanta noite que dormi contigo no sono acordado dos amores de tudo que desembocamos em amanhecimento a aurora acabou por virar processo.
Mesmo agora quando nossos poentes de acumulam quando nossos destinos se torturam no acaso ocaso das escolhas as ternas folhas roçam a dura parede.
Nossa sede se esconde atrás do tronco da árvore e geme muda de modo a só nós ouvirmos.
Vai assim seguindo o desfile das tentativas de nãos o pior de todas as asneiras todas as besteiras se acumulam em vão ao pé da montanha. Para um dia partirem em revoada.
Ainda que nos anoiteça tem manhã nessa invernada.
Vilões, canções, invenções de alvorada...
Ninguém repara, nossa noite está acostumada.
Au Gratin
Fumo um cigarro fino
Como um palito
O calor do Rio é ridículo
Calor de chuva enrustida
Calor do céu oprimido
De inferno mar resolvido
Que não sabe se queima esse cara
Ou o assa ao ponto
Um calor filho da puta
Um calor de estufa
E eu sem nem ser judia
Sofro aos pouquinhos
Sofro esse zé pagodinho
Ardo nesse pecado que não cometi
Nesse forno onde me meti
Por uma apimentada dica
De um nordestino
Que me mostrou uma placa citada, tinhosa:
‘’CIDADE MARAVILHOSA’’
Eu vim.
Reconstituição
Tive de repente saudade da bebida que eu estava bebendo... tive saudade e tentei me lembrar que gosto faltava, qual era a bebida...
Fui procurando entre copos e móveis e dei com sua boca.
A saudade era dela.
A bebida era o beijo.
Late ilusão
Em noite de lua cheia geme ao meu lado o meu cão acabado de chegar late ilusões ao meu ouvido e meu sentido diz que ele veio pra ficar
Mas a vida passa e vira, páginas da folhinha o que era cheia e domingo foi minguando em segundas e terças e meu homem, minha