poesia
(A Carlos Drumond de Andrade)
Ele entrou em mim sem cerimônias
Meu amigo seu poema em mim se estabeleceu
Na primeira fala eu já falava como se fosse meu
O poema só existe quando pode ser do outro
Quando cabe na vida do outro
Sem serventia não há poesia não há poeta não há nada
Há apenas frases e desabafos pessoais
Me ouça, Carlos, choro toda vez que minha boca diz
A letra que eu sei que você escreveu com lágrimas
Te amo porque nunca nos vimos
E me impressiono com o estupendo conhecimento
Que temos um do outro
Carlos, me escuta
Você que dizem ter morrido
Me ressuscitou ontem à tarde
A mim a quem chamam viva
Meu coração volta a ser uma remington disposta
Aprendi outra vez com você
A ouvir o barulho das montanhas
A perceber o silêncio dos carros
Ontem decorei um poema seu
Em cinco minutos
Agora dorme, Carlos.
( Elisa Lucinda )
*
Cor-respondência
Remeta-me os dedos em vez de cartas de amor que nunca escreves que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes que parecem repetir o amor bem feito que voce tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo se era o seu jeito ou de propósito mas era bom, sempre bom e assanhava as tardes.
Refaça o verso que mantinha sempre tesa a minha rima firme confirme o ardor dessas jorradas de versos que nos bolinaram os dois a dois.
Pense em mim e me visite no correio de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida outra vez meta
Remeta.
( Elisa Lucinda )
*
Safena
Sabe o que é um coração amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas aproximem-se! Rolos, rolas, tinta, tijolo comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro comece você primeiro passando verniz nos móveis e vamos tudo de novo do novo começo.
Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora