Educação
FINALIDADE DAS COISAS
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentando, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
(Fernando Pessoa, O guardador de rebanhos).
Pode-se dizer que de modo geral o pensamento de Nietzsche se dirige contra tudo o que é eterno, o que permanece, quod quid est, em uma palavra, metafísica. O pulso da vida está para além daquilo que pretende julgá-la como algo por si, seja um bem universal ou um mal a ser redimido, em todo caso, como uma coisa passível de ser mensurada e avaliada moralmente. A vida não tem valor porque é fonte de valores, ensina Nietzsche (CI, “O problema de Sócrates”, §2), é inestimável e, por isso mesmo, está para além do bem e do mal. Viver é estar lançado na possibilidade de ser avaliado e avaliar, por conta disso as relações de valores se confrontam como relações de forças entre si, e muitas vezes relações de forças se confrontam contra si mesmas (é o caso da vida ascética). Somente desse ponto de vista vale dizer que a vida é um erro. É um erro não porque realiza algo errado ao viver, nem por culpa de se ter nascido, mas antes, porque o erro é condição de possibilidade para a vida se realizar e, humanamente, se reconhecer no mundo. “A vida não é argumento; entre as condições para a vida poderia estar o erro”, diz Nietzsche (GC, §121).
Argumento no português (Argument no alemão) vem do latim, argumentum, que significa, entre outras coisas, a prova, o evidente. O erro da vida (humana) é não estar nem ser evidente para si mesma: o mais evidente na vida, o mais fácil de ver enquanto se vive, é justamente aquilo que já passou, o já visto ou já vivido. Como diz Sêneca nas Cartas a Lucílio: a morte não está à nossa frente, mas no tempo que deixamos para trás.
Do ponto de vista evidentemente humano, a vida erra à medida que vive e luta pelo sentido de seu viver, entre