educação fisica
Para o especialista da Universidade de São Paulo, a função da disciplina é investigar como os grupos sociais se expressam pelos movimentos
MARCOS GARCIA NEIRA "As aulas de esportes, jogos, lutas e danças não se esgotam na prática. É preciso refletir sobre essas manifestações para entendê-las de fato"
De todas as disciplinas do Ensino Fundamental, provavelmente a Educação Física foi a que sofreu transformações mais profundas nos últimos tempos. Mudanças pedagógicas e na legislação fizeram com que até mesmo sua missão fosse questionada. Se até a década de 1980 o compromisso da área incluía a revelação de craques e a melhoria da performance física e motora dos alunos (fazê-los correr mais rápido, realizar mais abdominais, desenvolver chutes e cortadas potentes), hoje a ênfase recai na reflexão sobre as produções humanas que envolvem o movimento. Se antes o currículo privilegiava os esportes, hoje o leque se abre para uma infinidade de manifestações, da dança à luta, das brincadeiras tradicionais aos esportes radicais. Ecos da perspectiva cultural, que domina pesquisas e ganha cada vez mais espaço nas escolas.
Considerado um dos principais investigadores dessa tendência, o professor Marcos Garcia Neira, da Universidade de São Paulo (USP), defende que a principal função da Educação Física escolar é analisar a diversidade das práticas corporais da sociedade - mesmo as consideradas mais polêmicas, como danças do tipo funk e axé. Amparado por 17 anos de docência na Educação Básica e pela participação na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e das Orientações Curriculares do município de São Paulo, Neira discute essa questão provocadora e avalia os principais desafios da disciplina.
Por que a Educação Física mudou tanto nos últimos anos?
MARCOS GARCIA NEIRA Foi uma mudança que acompanhou uma série de outras transformações. Na sociedade, grupos que não tinham