Eduardo Scheidt 2
São Paulo – 1998
ISBN 85-903587-3-9
Concepções de “República” nos países do Prata na época do regime de Rosas (1829-1852)
Eduardo Scheidt*
1- Introdução
Os países de Prata, Argentina e Uruguai, assim como as demais ex-colônias espanholas na América, adotaram a República como forma de governo após a
Independência. Na época, “República” e “republicano” tinham significados diferentes dos atuais, que ultrapassavam uma mera definição de um sistema de governo. República era associada a uma identidade americana, a uma forma de governo na qual haveria uma igualdade social, contrastando com a Europa aristocrática e monárquica. A discussão em torno do republicanismo não se restringiu ao momento da emancipação política, mas prosseguiu durante o processo de construção dos novos Estados ao longo do século XIX.
Nossos estudo analisa as concepções republicanas em um destes períodos, a época do regime de Rosas, abordando tanto a “República” defendida pelos apoiadores do regime, quanto a proposta por seus opositores. O confronto entre as duas concepções de República demonstra que a luta entre as facções políticas na época do rosismo estendeu-se, também, ao campo das idéias.
Nosso trabalho fundamenta-se na noção de que as concepções de República são uma construção ideológica1 de grupos sociais que devem ser contextualizadas historicamente. É também necessário atentar-se aos distintos significados que o termo “República” adquiriu no vocabulário político da época. Esta questão é uma das preocupações da “nova história política”, como demonstrou o pesquisador argentino José Carlos Chiaramonte:
* Mestre em História pela UNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos). São Leopoldo – RS.
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Estamos cientes que há muita controvérsia em torno ao conceito de “ideologia”. Nosso estudo utiliza o termo em seu conceito amplo, desenvolvido a partir de Gramsci. Para o autor, ideologia adquire um“[...] significado mais alto de uma concepção de