Economia aplicada
A REPRODUÇÃO SOCIAL
Propostas para uma Gestão Descentralizada
São Paulo, Fevereiro de 1998
Prólogo
“No longer inevitable, poverty should be relegated to history – along with slavery, colonialism and nuclear warfare” – Human Development Report, United Nations, 1997
Não há grandes mistérios quanto ao que queremos como sociedade: a segurança do necessário para uma vida digna, a tranquilidade no relacionamento social, o sentimento de participar criativamente das coisas que acontecem, a liberdade moderada pelas necessidades, a paz do amor, o estímulo do trabalho, a alegria de rir com os outros, o realismo de rir de si mesmo.
Mas estes objetivos passam por um valor esssencial que precisa ser resgatado: o da solidariedade humana. Primeiro, porque é triste ver estes pobres seres humanos, que passam numa breve viagem pela vida, gastar o seu pouco tempo arreganhando os dentes uns para os outros, como que impotentes frente às suas raizes animais – homo homini lupus – incapazes de ver, ou de ter o tempo para ver a beleza do rio que passa, o esplendor do pôr do sol, a genialidade de um poema, o gosto de um trabalho bem feito, a magia de uma criança que descobre uma coisa nova, cada vez mais motivados negativamente pela insegurança generalizada, numa eterna fuga para a frente, acumulando riquezas fúteis, correndo como loucos atrás do sucesso, ainda que sabendo perfeitamente onde termina a corrida. A solidariedade social é uma questão de elementar senso das realidades.
Segundo, porque não há dúvidas de que a nossa sociedade precisa de um choque de ética e de visão social e ambiental. Acostumamo-nos a ver como normal o latifundiário que acumula gigantescos espaços de terra que não consegue sequer utilizar, enquanto familias passam fome sem poder cultivá-las; o banqueiro que se enche de dinheiro enquanto unidades produtivas ficam estranguladas; o