Durkheim
As paixões humanas só se detêm diante de um poder moral que respeitam. Se falta uma autoridade moral desse gênero, impera a lei do mais forte; latente ou agudo, há necessariamente um estado de guerra crônico... Enquanto em outros tempos as funções econômicas só tinham um papel secundário, hoje ocupam o primeiro plano. Diante delas, vemos as funções militares, administrativas e religiosas recuarem cada vez mais. Só as funções científicas têm condições de lhes disputar a posição: e, mesmo assim, a ciência hoje só tem prestígio na medida em que pode servir à prática, isto é, em boa parte, às profissões econômicas. Por isso se pôde afirmar a respeito das nossas sociedades, com uma certa razão, que elas são ou tendem a ser essencialmente industriais. Uma forma de atividade que assumiu tamanha importância no conjunto da vida social não pode evidentemente permanecer a tal ponto desregulada, sem que resultem dificuldades das mais sérias. Isto constitui, notadamen- te, uma fonte de desmoralização geral.
De la division du travail social Prefácio da 2* edição, pp. 3-4.
Esta análise do pensamento de Durkheim focalizará seus três livros principais: Da divisão do trabalho social, O suicídio e As formas elementares da vida religiosa. Procurarei depois avançar um pouco mais na minha interpretação, reconstituindo a evolução do seu pensamento e examinando a relação entre suas verdadeiras idéias e as fórmulas metodológicas que empregou para traduzi-las. Finalmente, estudarei as relações entre a sociologia, como a concebia Durkheim, e a filosofia.
Da divisão do trabalho social
Da divisão do trabalho social (1893), tese de doutoramento de Durkheim, é seu primeiro grande livro.
É também aquele em que se reconhece mais claramente a influência de Auguste Comte. O tema deste primeiro livro é central no pensamento do autor: as relações entre os indivíduos e a coletividade. Como pode uma coleção de indivíduos constituir uma sociedade? Como se chega a esta