Duopólio tam e gol
Lembro quando eu era criança e usava o avião como meio de transporte. Havia todo um glamour em torno dessas viagens, que faziam da ida ao aeroporto tão esperada quanto o passeio em si. Bom atendimento, comida oferecida nos voos impecável. Hoje, quando ouço pessoas falarem sobre suas experiências com as empresas aéreas, tenho a sensação de que nos últimos 15 anos as mudanças foram gigantescas. Atrasos nos voos, atendimento precário, uma barrinha de cereal ou um amendoim dado pela aeromoça, e olhe lá.
As condições de trabalho nas empresas aéreas, se não seguiram o mesmo ritmo, tiveram uma decadência ainda maior. Lembro de quando meu pai trabalhava na Varig e contava que era um orgulho para os funcionários dizer que faziam parte do quadro da companhia. Aliás, o trabalho no setor aéreo era bem visto na sociedade, altamente disputado. Não me esqueço das grandes festas organizadas para os empregados, sempre muito esperadas por mim e pelos meus primos. Apenas recordações de uma época não tão distante, mas que revelam uma realidade bem diferente da atual.
Se antes, o trabalhador vestia a camisa da empresa, hoje ele está descontente e afirma que só está na companhia de passagem. Esse é o discurso que mais cresce, em um setor onde as condições de trabalho pioram, os salários diminuem e o excesso de jornada é prática comum. Dirigentes sindicais se habituaram a ouvir “eu não quero ficar aqui por muito tempo”, quando tentam sindicalizar um novo aeroviário. Eles não querem mais seguir carreira nem estão dispostos a mobilizações coletivas.
Para o economista do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos SócioEconômicos) no Rio de Janeiro, Jardel Leal, esse é o reflexo de uma estrutura antidemocrática das empresas aéreas, com sua hierarquia fortemente demarcada, em que profissionais qualificados e competentes não são ouvidos nem devidamente valorizados. “E não adianta sentir saudades do