Duas Fases de Parmênides
Robbiano, Chiara
Duas fases parmenídeas ao longo da via para a verdade: elenkhos e ananke
DUAS FASES PARMENÍDEAS AO LONGO DA VIA PARA A VERDADE :
ELENKHOS E ANANKE
Chiara Robbiano
Utrecht University, the Netherlands chiara.robbiano@phil.uu.nl Minha proposta é ler o Poema de Parmênides como uma condução capaz de acompanhar os ouvintes ou leitores em direção à verdade1. Muitos elementos do texto parmenídeo se prestam a serem lidos nesta chave interpretativa, ou seja, como ajudas oferecidas àqueles que queiram adquirir aquele tipo de conhecimento (verdade, consciência) que o Poema encoraja a alcançar.
O texto do Poema é, de fato, abundante em palavras, imagens, argumentações e estratégias que podemos chamar de retóricas, ou seja, capazes de ter um efeito persuasivo (e transformativo) sobre aqueles que o escutam. Refiro-me por exemplo à evocação de lugares míticos e à narrativa em primeira pessoa do viajante para além da porta do Dia e da Noite no proêmio, mas também aos imperativos e às exortações da deusa, e aos argumentos que ela usa para ajudar o viajante a escolher a via ‘que-é’ de preferência à outra via2.
O conhecimento oferecido pelo Poema não é um tipo de conhecimento que se pode aprender passivamente, acentuando a teoria ou as teorias sobre a realidade, oferecidas pelo
1
Cf. Santoro, F. Os Nomes dos Deuses. In: O Poema de Parmênides. Da Natureza. "No Poema de Parmênides, a verdade ontológica do ser não é dissociada da prescrição de correção no agir e no escolher. A proximidade entre ser e dever ser, na expressão da indicação do caminho da verdade, é um traço decisivo do Poema...", p.81.
2
As estratégias retóricas e as ajudas ofertadas ao viajante – e àqueles que, lendo ou ouvindo o Poema, se identifiquem com ele e queiram imitá-lo e segui-lo ao longo da via para a verdade – não ficam paradas na soleira do fragmento 8, que também é permeado, seja por imagens de movimento (cf.