Drogas
Eis o estágio em que a idéia de legalização das drogas se depara hoje: uma espécie de emplastro Brás Cubas para o fim da violência gerada pelo tráfico, a redução de danos para a sociedade e o enfrentamento do problema como uma questão de saúde pública. Enfim, o debate entrou no campo da obviedade, sem se sopesar com a devida cautela os inúmeros problemas sociais provenientes do consumo legal, ainda que com restrições sanitárias e médicas.
O desejo humano de tomar substâncias que alteram a mente é tão velho quanto a própria sociedade, à semelhança das tentativas de regulação de seu consumo. Mas suponho que nenhuma época humana teve de lidar com um duplo dilema: a disponibilidade de inúmeros remédios diferentes que alteram a mente (maconha, cocaína, “crack”, LSD, drogas sintéticas) e a demanda crescente de um conjunto de cidadãos, desejoso do exercício de seu direito de gozar de seus próprios prazeres de sua própria maneira.
O argumento de fundo para a legalização das drogas é estritamente filosófico. Numa sociedade livre, a lei deve permitir que os adultos possam fazer o que bem quiser, contanto que eles devam assumir as consequências de suas próprias escolhas e que não causem danos diretos aos outros. A ideia remonta a John Stuart Mill, no ensaio “On Liberty”: "o único propósito para o qual o poder pode ser legitimamente exercido sobre qualquer membro da comunidade, contra a sua vontade, é para evitar danos aos outros”.
Este individualismo radical impede a sociedade de conceber um código moral. No limite, seria como se não tivéssemos nada em comum, mas nosso “contrato social” de não interferência mútua permanece enquanto