doutor
Data: 17 de novembro de 2014
Aluna: Thaís da S. Pinto
Literatura Portuguesa II
Errata
Onde se lê Deus deve ler-se morte.
Onde se lê poesia deve ler-se nada.
Onde se lê literatura deve ler-se o quê?
Onde se lê eu deve ler-se morte.
Onde se lê amor deve ler-se Inês.
Onde se lê gato deve ler-se Barnabé.
Onde se lê amizade deve ler-se amizade.
Onde se lê taberna deve ler-se salvação.
Onde se lê taberna deve ler-se perdição.
Onde se lê mundo deve ler-se tirem-me daqui.
Onde se lê Manuel de Freitas de ser
Com certeza um sítio muito triste.
Manuel de Freitas.
In A última porta. Lisboa: Assírio & Alvim, 2010. Percebe-se uma produção de humor a partir da figura de linguagem anáfora, na repetição “Onde se lê... ler-se...”, e esta reiteração causa um sentimento de leitura guiada, prescrita, o que significa contraditório diante de sentimentos como amor e amizade, diante da poesia, da literatura e principalmente da morte. Essa repetição intensa, que se exibe com a mesma frase do começo ao fim, provoca um sentimento, que porventura ou não, a história do homem e consequentemente da poesia permanecem a mesma.
Uma poesia que revela um mundo rotineiro, que se ampara nos heróis, nas formas determinadas ou no cotidiano mais ordinário. Um homem vazio que precisa ser preenchido, um individuo “errado”, que precisa ser reinventado, modificado. Tanto o poema, como o homem são histórias que precisam ser corrigidas.
Parece que o eu - lírico ou Deus, podem ser intitulados como autor dessa nova história, ao passo que Deus é o mentor da vida e da morte, e o eu – lírico, um possível mentor da poesia e da literatura e esta, anteriormente nos remete a um pensamento crítico, reflexivo e libertador.
Nos últimos versos, conclui-se um desejo do poeta de distanciar-se desse real condicionado.