Dos papeis de carta aos clássicos
Fazendo o esforço de remexer nas lembranças das minhas primeiras experiencias de tentar ler o universo ao meu redor recordo-me da minha infância. Quando criança eu cresci ao lado da minha irmã Aline, pessoa que me proporcionou incansavelmente uma compreensão mais clara das primeiras percepções e sensações do meu mundo particular, além, de parceira Oficial-Chefe-Mor de tramoias e peraltices.
Numa de nossas aventuras me lembro de uma em especial que me valeu uma importante lição de leitura da vida. Eu e minha irmã, por volta dos 5 a 8 anos de idade, fomos devoradas pelo desejo de colecionar papeis de carta. Diante deles, iniciamos a nossa cultura do feminino, da vaidade de garota, na construção do gosto – ora furta-cor, ora marca dágua – da cor rosa, enfim, o iluminado mundo cor de rosa de menina, moça e mulher que um dia nos tornaríamos. Tudo começou por influencia de uma tia que possuía uma enorme e variada coleção de papéis de carta – perfumados, de graciosas formas e cores delicadas - que jamais podíamos sonhar conhecer um dia. Ela nos explicou como conseguiu reunir tantos papeis por tanto tempo, do esmero e cuidado de mantê-los limpos e sem marcas sujas de dedos, do investimento de suas pequenas economias para expandir a coleção até mesmo trocando-os com algumas amiguinhas e que quando começou possuia apenas dois pares de papeis médios – metade de uma folha A4.
Nós na ansia de conquistar nossa própria coleção saíamos pedindo papéis de carta a todos que encontrávamos mãe, tios e primos mais velhos. Com o tempo, não aguentando mais a espera, nos preciptamos em subtrair da invejavel coleção de nossa tia alguns papéis já raros para aquela época, com a intenção de contar vantagem para as nossas vizinhas sobre nossa última e importante aquisição. A aventura seria apenas, subir no armário da sala de 2,5m de altura, na última prateleira pegar as pastas, retirar o necessário sem deixar vestígios e desfazer a subtração no mesmo dia,