dominio da lingua
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Na faculdade, em 2003, na aula de língua e cultura gregas clássicas, o professor deu uma declaração que me chocou. Lembro, ipsis litteris, ainda hoje:
“Nós não somos importantes para a sociedade, não temos valor econômico, podemos parar de existir, nossa área não é importante, somos adornos e descartáveis e temos que encarar isso”.
Infelizmente, apesar de minha REAÇÃO primeira ser de revolta e desaprovação, eu NUNCA simplesmente REAJO e PERMANEÇO nessa reação, embora possa expressá-la na hora quando tomada pela emoção.
Isso por vezes me rende amargar arrependimentos, com “amigos” em que perdi a oportunidade e o timing de virar as costas mais cedo e relevei e considerei que poderia ser eu a errada, mas acho que vale a pena pagar esse preço porque eu estou sempre me revendo e sempre peso a possibilidade de estar errada e mergulho em reflexão mais demorada e processos investigativos.
Infelizmente, como acontece com tudo aquilo que é generalizado e socialmente aceito, em vários momentos me vi concordando com a declaração desse professor ao longo dos anos nesse processo reflexivo e investigativo. Como negar que era assim que a sociedade e o mercado via os estudos culturais e linguísticos?
Porém, quanto mais estudei e VIVI, percebi e hoje posso dizer que concluí que isso era um ledo engano e que é lamentável que um educador dessa área e, como todo educador, formador de opinião, tenha colocado a questão dessa maneira.
Para não me estender, acho que basta eu colocar que não é porque a escravidão do negro é socialmente aceita e largamente praticada que isso a torna válida e correta.
A desvalorização dos estudos de áreas de humanas e da figura do professor e de pesquisadores e filósofos já está cobrando da sociedade as suas consequências e há FALTA desses profissionais no mercado e a situação para nós que a conhecemos já está caótica e nada vem sendo feito a respeito. Quando isso se tornar 100% insustentável, isso se tornará ainda mais claro.