dom casmurro
De um modo geral, podemos destacar que o grande tema dessa obra é a suspeita do adultério nascida dos ciúmes doentios do narrador e protagonista Bento Santiago. É dessa forma que Machado conduz a força temática de Dom Casmurro, não utilizando, como era habitual na literatura realista, o adultério em si, mas a suspeita do adultério.
Dom Casmurro resultaria de uma tentativa do pseudo-autor de recompor o passado, como percebemos em suas palavras: “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência”. O que leva Bento Santiago a essa busca do tempo perdido é, indiscutivelmente, a necessidade de expurgar o sentimento doloroso da dúvida em torno da traição.
O que teria levado Bentinho à situação de indivíduo ensimesmado, fechado, solitário, teimoso, um casmurro? A narrativa da primeira parte desse trabalho mostra-nos a construção lenta desse homem triste e solitário. Para analisarmos o homem, devemos aproveitar a máxima machadiana de que “o menino é o pai do homem”, surgida num de seus contos, intitulado Conto de Escola.
Primeiro foi a perda do pai, cujo modelo ele não teve presente para seguir; depois, as proteções materna e familiares que terminaram por tomá-lo inseguro, mimado, fragilizado e indeciso ao ser obrigado a tomar qualquer decisão. Bentinho é inseguro, fraco, ao contrário de sua mãe ou mesmo de Capitu. Dona Glória, José Dias e a prima Justina fizeram dele um menino mimado, acostumado com que lhe fizessem todas as vontades. Assim, parecia incapaz de aceitar a independência das pessoas que o cercavam. Qualquer passagem além desse limite de seu sentimento de posse parecia-lhe uma traição. Capitu era independente, tinha vontade própria. Não costumava tomar conselhos do marido antes de qualquer atitude. O mesmo ocorre com Escobar, que já não