dogville
O longa nos apresenta a pequena cidade homônima e seus poucos habitantes, que viviam suas vidas pacatas e simples até a chegada da forasteira Grace (Nicole Kidman). Desconfiados e receosos de sua presença, os habitantes são convencidos pelo falastrão Tom Edison (Paul Bettany) a aceitá-la, mediante a condição de que Grace será usada por todos, prestando ajuda para as tarefas cotidianas. E assim ela faz, sem parar. Avançado o tempo, a doce Dogville começa a mostrar suas garras e Grace é sua vítima preferencial.
Mais do que uma produção cinematográfica corajosa e um brilhante estudo de personagem, “Dogville” nos apresenta provocações sobre o ser humano e sua construção social. A pequena cidade é organizada a partir do que hoje em dia chamamos de autogestão. Decisões são tomadas em assembleias em que todos os munícipes têm direito de falar e votar. São nessas reuniões que os personagens mostram sua “participação política”. E aqui cabe destacar a provocação cínica do diretor em esquematizar uma organização social com traços de comunismo em uma história que se passa durante a Grande Depressão.
Toda essa estrutura de “participação política”, de engajamento e consciência social, esconde o traço humano dos habitantes da pequena vila. Por trás de máscaras de “atores sociais”, estão personagens medrosos, cruéis, mentirosos e individualistas na hora que podem sê-los. E assim temos uma vila composta por um cego que esconde sua condição por vergonha, mas não perde a oportunidade de abusar de Grace, um rústico trabalhador pai de família adúltero, uma religiosa mãe de família torturadora e cruel, uma criança sadomasoquista, entre outros tantos moradores. Nessa complexa (des)construção de personagens, temos todos eles construídos de forma multidimensional e coloridas, não havendo espaço para o “preto e branco”. Aliás, há sim um personagem “preto e branco”: Moses, o cão que late para Grace assim que ela chega a Dogville.
Falando no cão, impossível não pensar a respeito