Distribuição de renda no brasil
Resumo.
Este trabalho analisa alguns elementos constitutivos do padrão distributivo brasileiro, numa perspectiva de longo prazo. Para tanto, resgata algumas especificidades do desenvolvimento das forças produtivas no país, marcado por um processo de industrialização tardia, bem como suas implicações sobre a dinâmica distributiva extremamente concentradora. Embora tivesse alcançado elevado grau de maturação no padrão de industrialização, sem paralelo com outras economias capitalistas periféricas – o que permitiu o avanço na estruturação do mercado de trabalho, com sedimentação das bases primárias da distribuição da renda –, o Brasil não conseguiu alterar drasticamente o modelo concentrador aqui imposto. Historicamente, a ausência de reformas profundas nos campos fundiário, social e tributário, impossibilitou o surgimento de uma estrutura secundária de transferências e repartição dos fluxos de renda no país.
Palavras-chave: Concentração de renda; Desregulamentação do trabalho; Desenvolvimento econômico.
Introdução.
A gravidade da situação relativa à elevada concentração de renda no Brasil voltou a compor a pauta de discussões nos anos 90, ainda que nunca tivesse deixado de manifestar-se em evidências empíricas e estatísticas. E no momento em que nos aproximamos do final do milênio, a sociedade brasileira continua a ser caracterizada por um perfil distributivo dos mais desiguais e concentrados do planeta.
Uma lógica intrínseca perversa, consolidada ao longo dos processos de industrialização e urbanização, parece ter resistido ao avanço do progresso econômico – nos termos dos autores desenvolvimentistas1 dos anos 50 e 60 –, requerendo, portanto, uma atenção especial dos estudiosos e uma intervenção deliberada dos poderes públicos, no sentido de transgredir as leis de reprodução do modelo concentrador e instaurar um padrão de repartição virtuoso no tempo, capaz de compatibilizar crescimento sustentado