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Poverty, “social issue” and its confrontation
Carlos Montano*
Resumo: Visamos aqui problematizar as diferentes concepções de pobreza e “questão social” na tradição liberal, e suas formas típicas de enfrentamento, no contexto do liberalismo clássico, no século XIX, do keynesianismo, no século XX, e do neoliberalismo, a partir da atual crise do capital. Com isto, oferecemos uma reflexão sobre aspectos para uma caracterização histórico‑crítica de pobreza e “questão social”. Finalmente, procuramos problematizar os caminhos para a busca de diminuição da desigualdade social, mediante políticas compensatórias no contexto atual.
I. Concepções sobre pobreza, “questão social” e seu enfrentamento
Neste item visamos a apresentação comentada das diversas concepções hegemônicas, dentro da tradição liberal, sobre pobreza e
“questão social”, orientadas por interesses do capital e na perspectiva das lutas de classes, que por sua vez determina as formas típicas de intervenção nas mesmas.
1. As concepções hegemônicas de pobreza e “questão social” no capitalismo concorrencial
A expressão “questão social” começa a ser empregada maciçamente a partir da separação positivista, no pensamento conservador, entre o econômico e o social, dissociando as questões tipicamente econômicas das “questões sociais”
(cf. Netto, 2001, p. 42). Assim, o “social” pode ser visto como “fato social”, como algo natural, a‑histórico, desarticulado dos fundamentos econômicos e políticos da sociedade, portanto, dos interesses e conflitos sociais. Assim, se o problema social (a “questão social”) não tem fundamento estrutural, sua solução também não passaria pela transformação do sistema.
A origem desta separação são os acontecimentos de 1830‑48. No momento em que a classe burguesa perde seu caráter crítico‑revolucionário perante as lutas proletárias (cf. Lukács, 1992, p. 109 e ss.), surge um tipo de racionalidade que, procurando a