Direito
Martin Riesebrodt
Tradução de Norma Caroline Demamann Müller
Nenhum texto de Max Weber foi tão lido, tão controversamente discutido e tão mal compreendido como seu artigo “Die Protestantische Ethik und der ‘Geist’ des Kapitalismus” [A ética protestante e o “espírito” do capitalismo]1. Para uns, ele representa uma obra-prima, cuja tese central serviu de base para teorias da modernização (cf. Eisenstadt, 1968). Para outros, a
“Ética protestante” é um ataque idealista à teoria histórica e social de Marx e, em consequência, não apenas falsa, mas também ideologicamente motivada. Nenhuma dessas leituras faz justiça ao texto. Via de regra, também os historiadores que se debruçaram criticamente sobre Weber não acertaram o núcleo da tese, ao supor que ele pretendesse uma explicação da gênese do capitalismo enquanto um sistema econômico. Também o interpreta mal aquele que, inadvertidamente, testa a argumentação de Weber nos locais em que se encontravam os capitalistas mais bem-sucedidos. O próprio Weber já empenhara muitos esforços para aclarar tais mal-entendidos (cf. Weber, 1910).
Weber não trata de “capitães da economia” e suas receitas de sucesso, mas sim das origens de uma nova visão do trabalho que contribuiu para o sistema do capitalismo empresarial moderno e, dessa maneira, alcançou um efeito de massa. Portanto, o que está em debate é um fenômeno cultural que, a longo prazo, também teve repercussão sobre as estruturas econômicas, um novo éthos, que representa a quebra da visão tradicional do trabalho e da atividade econômica. A disposição interna dos seres humanos foi revolucionada e a dedi-
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1. Cito de acordo com a primeira versão recentemente editada por
Klaus Lichtblau e Johannes Weiss
(cf. Weber, 1993b).
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A ética protestante no contexto contemporâneo, pp. 159-182
cação ao trabalho tornou-se central. Weber acredita poder identificar as