Direito
O operário Jean, 44 anos de idade, foi detido pelos guardas de segurança da Forjaria São Bernardo, do grupo Sifco. Levava dois pãezinhos, que, segundo a empresa, eram “três ou quatro”, furtados na lanchonete. Jean foi chamado no dia seguinte ao departamento de pessoal, para ser demitido. Fazia tempo que suspeitavam dele, pois uma vez apanhado, confessara que sempre levava os pães, para comer durante o horário de trabalho, porque sofria de gastrite e a comida do refeitório lhe fazia mal. O fato, havia muito tempo, era de conhecimento de seus colegas e de seu chefe.
Jean era agora um ladrão desempregado. Seus 20 anos de serviços sem repreensão na Sifco transformaram-se em nada. Foi para casa, dois quartos e sala, ao encontro da família, mulher e dois filhos.
Para a administração de recursos humanos da Sifco, o caso estava encerrado. No dia seguinte, porém, “os encrenqueiros do sindicato” começaram a fazer barulho na porta da fábrica. Num comunicado ao público, a Sifco informou que o metalúrgico Jean cometera falta grave e havia sido demitido por justa causa.
O caso chamou a atenção da imprensa e saiu nos jornais. A diretoria da Sifco, sediada em Jundiaí, São Paulo, viu o tamanho do problema e percebeu que castigar quem rouba pães é má idéia. Numa reunião, os diretores decidiram retroceder em sua decisão, por causa da publicidade negativa. Alguns dias depois, novo comunicado nos jornais informava que a Sifco considerava a demissão do senhor Jean “um fato isolado, lamentável e equivocado”. Ele estava sendo reabilitado e chamado de volta ao emprego.
Ao voltar, disse o senhor Jean: “Eu gosto da empresa. Tudo que tenho foi dela que recebi. Não quero que ela seja prejudicada”.