Resenha para o Jornal do Brasil (publicada em 22/4/1995) MONTESQUIEU. Grandeza e decadência dos romanos.São Paulo,Paumape,1995. Como ler um clássico ? Para o historiador francês Roger Chartier, é preciso adotar um procedimento duplo: inscrevê-lo no seu tempo, "escutando-o simultaneamente no presente". De início, portanto, precisamos perguntar o que levou Montesquieu a escrever um pequeno livro sobre os romanos, catorze anos antes de publicar O Espírito das Leis, uma das obras mais importantes do pensamento político. O barão de Montesquieu, como era comum entre os bem-nascidos do seu tempo, teve uma sólida formação clássica, o que se reflete no impressionante leque de fontes antigas por ele utilizadas. Não pense o leitor, porém, que Montesquieu escreveu sobre os romanos por diletantismo, longe disso. O titulo original da obra é "Considerações sobre as causas da grandeza e decadência dos romanos ". O trecho em negrito, ausente do título da tradução brasileira, é essencial. Isto porquê, mesmo há mais de dois séculos e meio atrás, para ser preciso em 1734, Montesquieu pretendia, sobretudo, refletir e explicar . O valor que poderia ter uma investigação deste tipo para ele, fica claro já no primeiro capítulo: "como os homens tiveram em todos os tempos as mesmas paixões, as ocasiões que produzem as grandes mudanças são diferentes, mas as causas são as mesmas". Em outras palavras, Montesquieu acreditava em uma "natureza humana", motivo pelo qual, ao estudar os romanos, estaria conhecendo melhor os homens do seu tempo. E que idéia tem do Homem, afinal ? Pessimista, basicamente: "os homens são muito bizarros", "a maioria dos homens quer coisas contraditórias". Isto não o impede de alegrar-se com o exemplo do imperador Marco Aurélio: "Sentimos um prazer secreto ao falar desse imperador; não podemos ler sua vida sem uma espécie de enternecimento; e tal é o efeito que ela produz que passamos a ter uma opinião melhor de nós mesmos, pois passamos a ter uma opinião melhor dos