DIARIO DE CAMPO
Começamos a vivenciar o campo de pesquisa, múltiplo, disperso, tenso e elástico, tentando configurar um objeto com suas várias concretudes e intensidades. Adentrando mais e mais, fomos descobrindo singularidades, vivendo processos de subjetivação e descobrindo significados e, cada vez mais, pensando quais os sentidos disso tudo, tantas vidas, tantas dores, alegrias, bons encontros, paixões alegres e tristes. Assim, foi-se produzindo o momento da pesquisa, o momento da produção teórica e, sobretudo, a produção do objeto e do pesquisador no momento de intervenção, já que sempre se está implicado e, neste caso, explicitamente, colaborando como assessora e como gestora na construção do processo analisado. Desta forma, o pesquisador e o campo da pesquisa foram se produzindo ao mesmo tempo.
Priorizar movimentos e processos, traçar linhas, dar vazão às intensidades, a cartografia veio então nos ajudar no processo de investigação, na medida em que não pretendíamos revelar algo que estava nos bastidores, mas acompanhar linhas, intensidades que se atualizavam, vivenciar linhas de fuga, marcar pontos de ruptura, produção de mapas em campos de forças: neste caso, o campo de forças da gestão municipal da saúde. A observação se deu na perspectiva da implicação: como um cartógrafo que vai sendo afetado pelas intensidades presentes no campo e, ao mesmo tempo, afetando e produzindo intensidades, seguindo ritmos, acompanhando processos, sem se submeter ao domínio, mas num movimento também de produção, numa composição e decomposição de ritmos, linhas e velocidades.
A observação do cotidiano da equipe gestora foi feita com o olhar interessado para o trabalho vivo em ato, para as práticas de gestão enquanto espaço de disputa entre os sujeitos que produzem o cuidado em saúde, para a micropolítica do trabalho em saúde.
Guattari e Deleuze utilizam o conceito de rizoma para explicar a noção de complexidade que envolve os fenômenos contemporâneos.