Deus e kant
Para compreender a proposta da ética kantiana é imprescindível compreender o tempo em que viveu e as preocupações que o motivaram. Kant nasceu em 1724 e morreu, praticamente senil, em 1804. O pensamento kantiano é um dos mais claros representantes do chamado Iluminismo. A menção à luz ou à iluminação é uma referência contra o pensamento medieval, para o qual os pensadores do Iluminismo ou modernos atribuíram o adjetivo de “Idade das Trevas”. Portanto, o Iluminismo pretendia, como tarefa básica, arrancar o homem da superstição e do misticismo, no qual, segundo seus autores, a Igreja Católica já havia calcado os homens. Abandona-se Deus e em seu trono senta-se a razão. Ela é, agora, capaz de nos fornecer a luz, o caminho e a verdade. Em relação à ética, surgem as seguintes questões: se Deus, a revelação divina e a autoridade da Igreja já não representam os fundamentos para a ética, onde, então, os encontramos? Se não existe o inferno e o céu, por que ainda há a necessidade de agir moralmente? Se não há um grupo seleto de homens (ministros das igrejas), quem ou de onde recebemos os mandamentos para a conduta certa? A partir de onde podemos definir o que é certo e errado? A resposta a estas perguntas eram, em última análise, a elaboração de uma ética secularizada, quer dizer, uma ética independente da autoridade da Igreja e de Deus (muito mais da autoridade da Igreja do que de Deus!!). Assim, a proposta de Kant é: a razão e na razão encontramos todas as respostas necessárias para fundamentar a ética. Por conseguinte, a ética kantiana é uma ética antropocêntrica, centrada no homem e não mais teocêntrica, na qual os mandamentos divinos, interpretados e comunicados por um grupo de homens que se autojulgam seletos, devem ser obedecidos. A revolução que Kant causa é comparada àquela que Copérnico realizou na astronomia, ou seja, o certo e o errado, antes determinados a partir de fora de nós