Despersonalização
Estados Gerais da Psicanálise: Segundo Encontro Mundial, Rio de Janeiro 2003
“Eu fica fora de mim ” : algumas questões relativas à despersonalização.
Paula Patricia Serra Nabas Francisquetti
Resumo: trata-se da despersonalização sobretudo na melancolia,e o contemporâneo.
Fora de si Eu fico louco Eu fico fora de si Eu fica assim Eu fica fora de mim Eu fico um pouco Depois eu saio daqui Eu vai embora Eu fico fora de si Eu fico oco Eu fica bem assim Eu fico sem ninguém em mim Arnaldo Antunes
As vivências de estranhamento, de desrealização, de despersonalização, de perda de si, daquilo que se acreditava ser, são muitas vezes assustadoras. Elas têm intrigado os psicanalistas desde Freud, que nos relata uma experiência pessoal de estranhamento e desrealização na linda carta que envia a Romain Rolland, em 1936, onde descreve seu transtorno na Acrópole. Alguns psicanalistas relacionam momentos de despersonalização com a psicose. Nasio, por exemplo, no livro Um psicanalista no divã comenta que para ele um esboço de despersonalização é um primeiro passo em direção a um diagnóstico de esquizofrenia embrionária. Para ele, um indício seria o
2 paciente lhe dizer: “Sim, algumas vezes olho minha mão e a sinto estranha a mim”.1 Considero que a associação com a psicose não deve ser descartada, mas é importante considerar outros aspectos. Sabemos, desde Freud, que essas vivências de estranheza, como a desrealização e a despersonalização, podem estar presentes nas diferentes estruturas clínicas (neurose, psicose, perversão, problemáticas narcísicas). Ele próprio descreve uma vivência de desrealização na carta citada acima. Neste texto privilegiamos a despersonalização na melancolia. Sabemos, no entanto, que os fenômenos da estranheza podem aparecer em outros contextos. Pergunto-me se na adolescência, momento de recomposição narcísica e identificatória, de profundas transformações corporais e psíquicas, não haveria maior vulnerabilidade a episódios de