Desordem e regresso
Ódio e intolerância envenenam o debate público no país. Dos campos de futebol às ruas, atitudes preconceituosas revelam ressentimento e rancor diante da perda de privilégios.
Inez Lemos
Publicação: 06/09/2014 04:0
Torcedores cariocas protestam contra o racismo nos estádios
O preconceito em relação ao pobre, gordo, feio, idoso, negro, homossexual, deficiente físico e à mulher, entre tantas outras formas de discriminação, merece debate. A exclusão é um traço da estrutura histórica que permeia as sociedades que cresceram sob a égide da acumulação de capital. Em diferentes períodos do processo histórico, a moralidade e os códigos éticos funcionaram em nome de uma razão, de uma lógica construída em nome de interesses ocultos. A maioria dos discursos morais esconde aspectos extremamente imorais. Contudo, a nossa era revive ondas de preconceito e intolerância assustadoras.
Muitos são os exemplos que apontam para o recrudescimento da violência, exemplos de intolerância que hoje se manifestam nas redes sociais. Interessa investigar a tendência em detonar as pessoas. Que ódio é esse? A intolerância que assusta é a do campo pessoal, é um ódio ao indivíduo. Qualquer atitude é uma justificativa para se jogar sobre o outro a insatisfação e a frustração. Em tempo de eleições, o debate é permeado por várias formas de preconceito. Partidos se digladiando nas redes sociais, onde o ódio é destilado numa demonstração de que, quando se trata de interesses políticos envolvidos, avançamos pouco.
Os códigos morais são inventados pelos homens, embora fundamentalistas de várias religiões se esforcem em afirmar que o discurso da intolerância resulta de decretos divinos. Hoje, o cenário político no Brasil é disputado entre pastores – muitos são os candidatos das igrejas evangélicas. Nos anos 1960 a 1980, uma parte do debate político, na Igreja Católica, contava com a presença das Comunidades Eclesiais de Base, que, incentivadas pela teologia da libertação,