Desigualdade segundo Rousseau
O século XVIII foi marcado na Europa ocidental pelo Iluminismo, movimento que se opunha ao absolutismo dos reis e ao misticismo religioso, valorizando a ciência e as "luzes da razão" contra a ignorância e o obscurantismo. Um dos maiores pensadores desse período foi o suíço Jean- Jacques Rousseau ( 1712-178 4). que viveu boa parte de sua vida na França. Seu pensamento teve forte influência entre alguns líderes da Revolução Francesa (1789).
No texto que você vai ler agora, escrito em 1755, Rousseau analisa as origens das desigualdades existentes na sociedade de sua época. Observe que ele se refere a um "estado natural" entre os seres humanos antes da formação da sociedade. Essa ideia de um estado de natureza era comum entre os pensadores da época. Segundo eles, a sociedade teria surgido quando, por razões de segurança, para proteger-se dos riscos que corriam diante da natureza hostil, as pessoas se reuniram e decidiram constituir-se em um Estado com governo próprio. Para Rousseau, esse momento está relacionado com o nascimento da propriedade privada e das desigualdades sociais.
Eu concebo na espécie humana dois tipos de desigualdade: uma, que chamo natural ou física, porque foi estabeleci da pela nature¬za, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças corporais e das qualidades do espírito ou da alma; outra, a que se pode chamar de desigualdade moral ou política, pois que depende de uma espécie de convenção e foi estabeleci da, ou ao menos autorizada, pelo consentimento dos homens. Consiste esta nos diferentes privilégios desfrutados por alguns em prejuízo dos demais, como o de serem mais ricos, mais respeitados, mais poderosos que estes, ou mesmo mais obedecidos.
Não há por que perguntar qual é a fonte da desigualdade natural, já que a resposta se encontra enunciada na simples definição do termo. Ainda menos se pode procurar qualquer ligação essencial entre as duas desigualdades, porque seria indagar,