Descrição
a) parágrafo descritivo, extraído de Vidas Secas, de Graciliano Ramos
"Estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido".
Observando este trecho, notamos que todos os detalhes apresentados acerca do objeto descrito (fazenda) contribuem para a formação de sua imagem de atual destruição e miséria. A contraposição de adjetivos e locuções adjetivas denotativas de morte a substantivos que sugerem a vida intensifica o contraste entre a prosperidade do passado e a escassez do presente. Note que a adjetivação acrescenta uma nova idéia aos substantivos. Deste fato decorre a força expressiva da descrição. A adjetivação estereotipada deve ser evitada, porque já perdeu toda a sua expressividade.
b) Trecho de Sagarana, de Guimarães Rosa
"Era um burrinho pedrês, miúdo e resignado, vindo do Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão. Chamava-se Sete-de-Ouros, e já fora tão bom, como outro não existia e nem pode haver igual.
Agora, porém, estava idoso, muito idoso. Tanto que nem seria preciso abaixar-lhe a maxila teimosa, para espiar os caldeirões dos dentes. Era decrépito mesmo à distância: no algodão bruto do pêlo - sementinhas escuras em rama rala e encardida; nos olhos remelentos, cor de bismuto, com pálpebras rosadas, quase sempre oclusas, em constante semi-sono; e na linha fatigada e respeitável - uma horizontal perfeita, do começo da testa à raiz da cauda em pêndulo amplo, para cá, tangendo as moscas."
Descrever não é enumerar o maior número possível de detalhes, mas assinalar os traços mais singulares, mais salientes; é fazer ressaltar do