Descartes: método da razão
(Do Livro: "A Paixão pela Razão – Descartes". Mário Sérgio Cortella. Editora FTD. São Paulo. 1998, pág. 49-62)
A principal contribuição de Descartes a seu tempo e aos séculos que se seguiram foi tentar fortalecer a Razão como uma ferramenta confiável para o ser humano poder interferir sobre a realidade. Na Revolução Científica que tomou conta do século XVII, os cientistas corriam por novos caminhos, que eles mesmos iam abrindo, para atingir o conhecimento. Descartes participou dessa procura. Foi exatamente no terreno movediço da dúvida que Descartes começou a procurar suas certezas. À primeira vista, é uma atitude contraditória, mas o fato é que a dúvida foi seu primeiro passo para conquistar a solidez do conhecimento.Só que não se tratava de qualquer tipo de dúvida, e não deve ser confundida com indecisão, incompetência, ignorância. A dúvida cartesiana pretendia voltar-se sobre tudo o que se supunha verdadeiro para, finalmente, construir-se uma certeza de que não se pudesse mais duvidar.
No primeiro momento, Descartes agiu como um demolidor. Ele considerava fundamental reduzir a pó todas as convicções e certezas anteriores. Assim, ele se propôs a duvidar de todas as coisas, não aceitando opiniões de outras pessoas, por mais autoridade que elas tivessem, rejeitando o conhecimento mais tradicional, desconfiando das aparências.
Quando, depois de remover todo o entulho, ele finalmente encontrasse a rocha sólida de um conhecimento inteiramente limpo de toda a possibilidade duvidar, aí sim, construiria sobre essa base o que chamou de "edifício da ciência e da sabedoria".
Apesar do seu entusiasmo em duvidar, nosso filósofo não se comprazia nessa tarefa. Ele não professava a dúvida pela dúvida! Como um cirurgião meticuloso, Descartes manejava sua dúvida deliberada, metódica, como um bisturi afiado. Corajosamente, ele abandonou as seguranças e partiu para a aventura filosófica. Aliás, essa atitude crítica sempre marcou os verdadeiros