Instrumentos do pensar
1. Introdução
É difícil determinar com clareza as diversas contribuições para a formação do pensamento moderno. Mas, se reduzirmos nosso interesse aos aspectos filosófico e científico – intimamente ligados nessa época - despertam de imediato em nossa mente três nomes: Descartes, Galileu e Francis Bacon.
Muito se tem discutido sobre a maior ou menor influência que esses três pensadores tiveram na formação da consciência filosófica e científica modernas, porém a contribuição de cada um deles é de natureza muito distinta. Por que havia tanta preocupação e debate em torno da Razão na época de Descartes? Por que a racionalidade humana se tornou um problema para a Modernidade?
Na cultura do Ocidente a racionalidade humana parecia uma coisa evidente desde o séc. IV a.C., quando Aristóteles elaborou essa definição de ser humano. No entanto essa racionalidade deixa de ser considerada a marca humana entre os séculos V e XV, Idade Média, em que predomina o feudalismo, período em que tudo estava envolto numa aura de religiosidade e misticismo. Na Idade Média, as sociedades européias giraram em torno da Igreja Católica e do cristianismo: a fé cristã passou a ser o principal guia da existência humana, a Razão perdeu sua posição de condutora privilegiada do homem.
Na concepção medieval, era muito restrito o campo de ação livre e autônoma da Razão, voltada apenas para ações consideradas secundárias. Quem se arriscasse a usar a Razão como ferramenta de conhecimento não poderia jamais deixar de lado a Revelação bíblica, e muito menos entrar em conflito com ela. Ensinava-se à força ou não, que confrontar Razão e Revelação era chocar-se diretamente contra Deus (e a Inquisição).
Os bispos tinham ordem de assalariar informantes cujo dever era denunciar todos os cristãos suspeitos, isto é, todos aqueles cuja maneira de viver divergia da dos católicos. Os bispos, então, examinavam estes cristãos e os puniam como lhe aprouvesse. A