descalabro
É uma pena que, assim como os cofres públicos, a língua nacional também tenha sido roubada de expressões tão ferozes e necessárias
Foi-se o verão sem que ninguém ouvisse durante seus três meses uma única cigarra gritando o fim do dia. Da mesma maneira estão passando esses investigados do Petrolão, sem que ninguém lhes grite nos ouvidos as palavras certas, também desaparecidas junto com a voz das cigarras.<SW>
São uns energúmenos!
Chegou a hora, diante do despautério generalizado que envergonha a nação, de deixar de lado o bom gosto literário. As novas normas dos manuais de redação estabelecem limites para o palavrório jornalístico. Fazem muito bem. Mas quem leu o noticiário recente percebeu. É impossível manter a elegância vernacular numa hora dessas. Urge rever o uso das palavras gordas de outrora, aqueles vitupérios que nos vêm de imediato, na fluidez incontrolável do inconsciente coletivo, e, infelizmente, ninguém mais pronuncia.
Sem essa de corrupção e malfeitos! Isso que estamos vendo é um descalabro!
Não é um clube de empreiteiros! Trata-se de um valhacouto de bandidos!
Uma das ordens que envolvem o fazer da escrita é a necessidade de, antes de ela sair de casa, antes de se publicar a coisa, passar um pente fino. Pentear a cabeleira do vocabulário, da gramática, da ordem geral das concordâncias, para que tudo brilhe glostoramente arrumado e não assuste o leitor. Compreende-se o pente Flamengo no estilo. É da índole humana querer posar na moda, up to date, o topete cheio de metáforas e brylcreem sintático. Todos sorriem, abraçados às borboletas nos parágrafos, para a glória do selfie literário.
Há uma obsessão generalizada de parecer moderno e, assim como se faz com o corpo, desidratar as palavras, obrigá-las a uma dieta a que só sobreviverão as magricelas, as anoréxicas de no máximo três sílabas. São as palavras-manequins. Ficam bem na foto, secas, joãocabralinas, mas na vida real ninguém quer comê-las, perdão,