DANOS MORAIS
ESTUDO DA MARGINALIDADE AVANÇADA
Michele Cunha Franco Conde*
WACQUANT, Loïc. Os condenados da cidade: estudo da marginalidade avançada. Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2001.
Passados os traumas da Segunda Grande Guerra, a euforia vivida em décadas de crescimento nas ricas sociedades do ocidente capitalista fez com que a auto-imagem dessas sociedades pudesse ser definida em uma só palavra: civilizadas. Civilizadas porque coesas, pacíficas e igualitárias e porque seguiam um caminho que inevitavelmente faria com que eliminassem as desigualdades sociais, sobretudo as herdadas, como classe, etnicidade ou raça.
Mas nem tudo são flores. Um fenômeno que o sociólogo francês Loïc Wacquant denomina marginalidade avançada (ou regime de clausura excludente e exílio socioespacial) tem feito com que essa autoimagem sofra fissuras e tem impedido que as desigualdades sociais sejam analisadas como produto de deficiências individuais, de acordo com a noção de “meritocracia”, tão cara à sociologia americana.
Os condenados da cidade, uma coletânea de artigos escritos nas décadas de 1980 e 1990, aborda comparativamente fenômenos sociais provocados pela desigualdade social em duas metrópoles de dois diferentes continentes – o gueto de Chicago (cinturão negro), no estado americano de Illinois, e os subúrbios operários franceses, ou banlieues (cinturão vermelho). Ao trabalhar comparativamente as estruturas e os mecanismos de exclusão urbana em metrópoles desses dois países, o autor chama a atenção para o fato de que semelhanças forjadas entre as duas realidades
* Mestranda em Sociologia pela UFG, bolsista do CNPq.
E-mail: franconde@02.net.br
em nada contribuirão para a compreensão ou solução dos problemas.
Ao contrário, só servem à disseminação do estigma imposto às duas regiões, estigma este que, associado à pobreza e à degradação moral
(para a qual ele próprio contribui), afeta em todos os aspectos a vida dos habitantes destas áreas (busca de emprego,