Daniel dennett
Sofia Miguens
Universidade do Porto smiguens@letras.up.pt Coimbra, 12 de Março de 1999, XIIIº Encontro da Associação de Professores de Filosofia
Vou falar, hoje, de um filósofo da mente americano, Daniel Dennett, e procurar explicar as razões por que ele vê a filosofia da mente como um ‘inquérito impuro’ (‘impuro’ significa aqui não apriorista, com relações íntimas com a ciência cognitiva). Para a filosofia da mente, o pensamento (e entendo aqui por ‘pensamento’ fenómenos de consciência, intencionalidade, identidade pessoal, acção voluntária, etc) é um fenómeno natural. Ora se o mental é uma parte da natureza, o fisicalismo aparece como uma posição incontornável. O fisicalismo em filosofia da mente é, basicamente a tese segundo a qual não pode haver propriedades mentais na ausência de propriedades físicas1. Noutras palavras, não existem objectos puramente mentais. Os problemas da filosofia da mente partem assim do estado das ciências naturais do mental e são em parte problemas de filosofia das ciências naturais, nomeadamente da filosofia da psicologia, se bem que o termo psicologia como teoria do mental, da cognição, do comportamento, tenha vantagens em ser usado aqui de forma ecuménica, de modo a abarcar o “mental natural” e o “mental artificial”, tanto que normalmente se fala não em ‘psicologia’ restrita ao seu sentido humano e animal mas em ‘ciências cognitivas’2, incluindo a Inteligência Artificial.
O estado contemporâneo dos problemas da filosofia da mente resulta em grande parte do facto de “a estratégia da objectividade”3, a estratégia de abordagem da natureza iniciada com a física no século XVII, ter chegado no nosso tempo à mente/cérebro e portanto ao observador, até aí salvaguardado. Intuitivamente, para haver mundo conhecido ou pensado tem que haver um observador (seja ele o que for fisicamente). Mas quando a estratégia da objectividade chega à fisicalidade do