Da sociedade em massa a sociedade civil
A concepção da subjetividade em Gramsci*
Giovanni Semeraro**
RESUMO: Um dos maiores desafios políticos e pedagógicos que batem à porta do século XXI, particularmente para o Brasil, é superar a condição de massa e fortalecer uma sociedade civil criativa que nasce das aspirações populares e busca autodeterminação, cidadania e participação ativa na gestão democrática do poder. A concepção original de sociedade civil delineada por Gramsci é uma fonte de inspiração fundamental para enfrentar os impasses atuais e construir uma sociedade livre e democrática.
Palavras-chave: Sociedade civil, sujeito social, democracia, cidadania, autogoverno A nova política do protagonismo das massas
Gramsci teve uma existência relativamente curta (1891-1937), mas viveu intensamente eventos históricos extraordinários que marcaram os rumos do nosso século: a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, os levantes operários na Europa, a formação de grandes partidos políticos, a consolidação de regimes totalitários, a depressão econômica de 1929, a afirmação dos Estados Unidos como potência hegemônica mundial.
* Texto apresentado para o Congresso Internacional: “Antonio Gramsci: Da un secolo all’altro”, organizado pela Internacional Gramsci Society, no Istituto Italiano per gli Studi Filosófici,
Napoli, 16-18 de outubro de 1997.
** Professor de Filosofia da Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Educação & Sociedade, ano XX, nº 66, Abril/99
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Nesse período, aparecem já claras as características dominantes das décadas seguintes: a emergência crescente das massas e as dimensões globais e instantâneas que vieram adquirindo as complexas relações humanas.
Hoje, favorecidos por um olhar retrospectivo sobre o século que se fecha, percebemos melhor que o mesmo fenômeno tem percorrido todos os continentes estreitando-os em um destino comum. Não apenas as guerras “totais”
– as mais catastróficas da história da