Da rotina a flexibilização
O Brasil é um dos países do Hemisfério Sul com maior produção científica sobre trabalho e processo de trabalho. Muitos desses utilizam conceitos da literatura internacional para discutir um caso. São poucos os trabalhos que criaram conceitos e que se tornaram referências.
O artigo visa a reavaliar a produção brasileira sobre organização do processo de trabalho a partir de alguns trabalhos de referência, fundadores dessa discussão nos anos 70 e 80. Trata-se de uma análise a posteriori, relacionando algumas obras, temas e contexto econômico-político-social, e não de uma síntese ou resumo. Pode-se notar que a temática é muito relacionada ao ambiente em cada momento da sociedade, simbolizando suas preocupações, a correlação de forças sociais e o estado do desenvolvimento das forças produtivas.
Cabe, portanto, tomar a obra citada como referência para análise crítica. Discutir o trabalho significava, para muitos autores e interessados, discutir mudança social, discutir o âmago das relações de poder e de classe na sociedade. Na interpretação trazida pelo conceito de rotinização, as indústrias, independentemente de seu nível tecnológico e do ambiente de referência, não se "esforçavam" para introduzir mudanças organizacionais. Haveria, pois, um problema na racionalidade empresarial: a produtividade não estava no centro das preocupações. Para contornar logicamente tal problema, lança-se mão do controle.
A afirmação de que há mais resistência das chamadas chefias intermediárias do que dos trabalhadores, quanto à introdução de programas de qualidade e de mudanças organizacionais diversas, é altamente disseminada no meio acadêmico e empresarial. Isso sugere uma característica particular das relações de trabalho no Brasil, seu histórico altamente autoritário: as chefias diretas foram, durante muitos anos, personificações do poder despótico, demitindo para reduzir a