da natureza da cultura
Por Rejane Ferreira *
Da natureza da cultura ou da natureza à cultura
Para iniciar as discussões, Laraia faz um breve histórico sobre o desenvolvimento do conceito de cultura. Para isso, cita Heródoto, que considerava os costumes dos lícios diferentes de "todas as outras nações do mundo", onde este estava tomando como referência a sua própria sociedade patrilinear, agindo de uma maneira etnocêntrica, embora ele tenha teoricamente renegado esta postura.
O padre José de Anchieta (1534-1597), ao contrário de Heródoto, se surpreendeu com os costumes patrilineares dos índios Tupinambá e escreveu aos seus superiores:
“Porque têm para si que o parentesco verdadeiro vem pela parte dos pais, que são agentes; e que as mães não são mais que uns sacos, em respeito dos pais, em que se criam as crianças, e por esta causa os filhos dos pais, posto que sejam havidos de escravas e contrárias cativas, são sempre livres e tão estimados como os outros (p12)”.
Laraia faz referência também a Montaigne (1533-1572), que procurou não se espantar em demasia com os costumes dos Tupinambás, afirmando não ver nada de bárbaro ou selvagem no que diziam a respeito deles, porque na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. E assim comentou a antropofagia dos Tupinambás: “Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade, mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos”.
Assim, desde a Antiguidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenças de comportamento entre os homens, a partir das variações dos ambientes físicos. Como o fez Marcus V. Pollio, arquiteto romano, quando afirmou enfaticamente que
“os povos do sul têm uma inteligência aguda, devido à raridade da atmosfera e ao calor; enquanto os das nações do Norte, tendo se desenvolvido numa atmosfera densa e esfriados pelos vapores dos ares carregados, têm uma inteligência