Da divisão social do trabalho
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A QUESTÃO JUDAICA
Karl MARX
Tradutor:
Artur Morão www.lusosofia.net i
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Apresentação
Dupla é a tenção de Marx nestes dois escritos (redigidos no final de 1843) que versam sobre “a questão judaica” [Die Judenfrage] de Bruno Bauer.
A primeira é levar a cabo uma crítica da posição baueriana que, a seus olhos, se limitava a transformar as questões sociais em questões teológicas e a exigir a emancipação religiosa como condição prévia da emancipação política. Mas Bauer não se dá conta da fonte do antagonismo entre a vida individual e colectiva, e apenas combate a expressão religiosa deste conflito. A liberdade que arvora é a liberdade de um indivíduo isolado, simples mónada social, sem reconciliação possível entre a esfera privada e o contexto colectivo. A segunda é realçar, na situação histórica presente, a não coincidência entre emancipação política e emancipação humana, porque persiste ainda a divisão ou o hiato entre sociedade civil e Estado. A sociedade civil é o recinto da vida real mas egoísta, no fundo desprovida de laços, simples arena de conflitos e de interesses antagónicos. O Estado, pelo contrário, surge como uma esfera de vida colectiva, mas ilusória. A famosa análise marxiana de alguns artigos da Declaração dos Direitos do Homem e de várias
Constituições americanas mostra que nelas apenas se referem os direitos do homem egoísta, fechado em si, todo centrado na propriedade e no seu desfrute, sem consideração pelos outros; consagrase nelas, portanto, a desintegração ou a dicotomia do ser humano
(seja judeu ou qualquer outra coisa) em cidadão e homem.
Em contrapartida, o fito da emancipação humana é fazer que o carácter colectivo, genérico, da vida dos homens seja vida real, isto é, que a sociedade, em vez de ser um conjunto de mónadas egoístas e em conflito de interesses, adopte um carácter colectivo e coincida com a vida do Estado. O homem