culturas
Fala-se em cultura popular e cultura erudita como se houvesse um rio que separasse claramente as duas margens. Este rio não existe, mas a divisão tem alguma utilidade operacional.
A cultura popular seria aquela que é produto de um saber não institucionalizado, que não se aprende em colégios ou academias; exemplo disso é o crochê, ou a culinária tradicional, ou ainda a literatura de cordel. A cultura erudita, por outro lado, pressupõe uma elaboração maior e por isso uma institucionalização do saber. Isto é: o domínio da cultura erudita passa não pela tradição familiar, mas por academias, bibliotecas, conservatórios musicais, etc. que selecionam o material e impõem regras rígidas e complexas elaborações. Bach, na música, e Ingressa, na pintura, são exemplos disso.
Evidentemente, os conceitos popular e erudito escondem também uma valoração. Por muitos anos, a cultura popular foi considerada inferior à erudita; e erudito mesmo era aquilo que era europeu, de preferência francês, inglês ou alemão. Os brasileiros eram os primos pobres, que tinham que beber naquelas fontes para se curar de seu incurável atraso. Esse pensamento foi se transformando ao longo dos anos, graças às contribuições de autores que, dominando o saber erudito, reconheciam o valor imenso da cultura popular (Gilberto Freire, Mário de Andrade e Guimarães Rosa são alguns desses autores).
Uma manifestação típica da cultura popular brasileira (junto com a literatura de cordel) é a frase de para-choque de caminhão, que condensa muito da experiência e do saber popular. O bom humor do brasileiro, por décadas, foi literalmente "veiculado" nos para-choques de caminhão. Em estradas muitas vezes em péssimas condições, ficar atrás de um caminhão tinha pelo menos uma vantagem: ler a frase do para-choque. "A