cultura
Voltaire Schilling
Num ensaio sombrio sobre os destinos da humanidade, intitulado Das Unbehagen in der Kultur (O Mal–estar na Cultura), aparecido em 1929, Freud teceu várias considerações sobre sua percepção do significado da cultura para a humanidade.
Entendeu-a como uma prodigiosa sublimação na medida em que ela era produto da impossibilidade da realização dos desejos inconscientes mais profundos de todos nós como também uma eficaz barreira para impedir o afloramento das tendências agressivas dos seres humanos. Mesmo a civilização que nos cercava, aparentando ser sólida, via-se constantemente à beira de uma desintegração devido a hostilidade primordial que provoca um perpétuo conflito entre os homens. O mundo caótico, primitivo e bárbaro dos instintos, tinha assim que ser domado e canalizado por uma força cultural que submetesse o homem a um convívio social mais pacífico e produtivo. 1
Sigmund Freud ( 1856-1939)
Mal-estar na Cultura / Abril-Novembro de 2010
Promoção: Departamento de Difusão Cultural - PROREXT-UFRGS
Pós Graduação em Filosofia - IFCH – UFRGS www.malestarnacultura.ufrgs.br O prêmio Goethe
Por maior que fosse a fama do doutor Freud no mundo de então, ele não era bem visto nem na sua Áustria natal nem na Alemanha. Os nacionalistas pan-germanistas acusavam-no de difundir uma “ciência judaica” – a psicanálise – que nada tinha a haver com a cultura autenticamente alemã. Os sacerdotes e pastores viam-no com a materialização de uma heresia secular que retirava da religião qualquer evidencia de sacralidade ou de divindade, além de claramente abolir com a idéia do pecado, peça central de toda a ética religiosa. Mesmo seus colegas psiquiatras duvidavam da eficácia do “ tratamento do divã”, das sucessivas sessões de terapia, para alcançar a cura das neuroses e outras psicopatias. Todavia o sucesso dele era enorme.
Quando o mundo racionalista-positivista da