CULTURA: um conceito antropológico ROQUE DE BARROS LARAIA
LARAIA, ROQUE DE BARROS. Cultura: um conceito antropológico – Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 2009
Primeira parte: da natureza da cultura ou da natureza à cultura
O principal foco deste volume é abordar um grande dilema: conciliar a unidade biológica com a grande diversidade cultural da espécie humana. E para não restar dúvida quanto as diferenças não é preciso analisar povos isolados em confins de florestas ou no coração de desertos inóspitos, basta apenas tecer um comparativo entre os costumes dos povos que habitam o “mundo civilizado”. Grandes teorias foram elaboradas para tentar explicar o fenômeno da diversidade humana, passando por fatores climáticos, localização geográfica, traços genéticos e valores morais superiores. No entanto de nada mais servem que para apenas confirmar a impossibilidade de se explicar tal diversidade com base em traços somatológicos ou mesológicos.
1 O determinismo biológico
As teorias que delegam capacidades inatas a certas raças humanas, apesar de velhas e superadas, ainda permeiam o pensamento da atualidade.
Muito embora haja um dimorfismo sexual evidente na espécie humana é falso afirmar que a diferença de comportamento entre os sexos é adquirido geneticamente. Para muito além da biologia, qualquer sistema de divisão sexual pende para o lado cultural, o que pode ser confirmado por uma análise em determinados cargos, que em uma cultura é feita por um sexo, mas que numa segunda cultura é de papel exclusivo do sexo oposto.
Na realidade esse comportamento “peculiar” depende de uma sequência de aprendizados, denominado endoculturação.
2 O determinismo geográfico
Assim como o determinismo biológico o determinismo geográfico busca atribuir traços de comportamento que não derivam da cultura, mas sim do local de moradia. As grandes teorias, muito aceitas na época, datam de fins do século XIX e início do XX. No entanto não demorou para que grandes antropólogos, como Boas, Wissler e