Cultura na Revelação Bíblica
A auto-revelação pessoal de Deus na Bíblia foi dada em termos da própria cultura do ouvinte. Assim, nos perguntamos que luz isso projeta em nossa tarefa atual de comunicação transcultural.
Os autores bíblicos usaram criticamente todo o material cultural que dispunham, a fim de expressar sua mensagem. Por exemplo, o Velho Testamento faz várias referências ao monstro marinho da Babilônia – o leviatã – enquanto que a forma da “aliança” de Deus com seu povo lembra o antigo “tratado” do suserano hitita com seus vassalos. Aqueles autores também fizeram uso das imagens conceituais do universo “de três níveis”, embora ainda não afirmassem com isso uma cosmologia pré-copérnica. Ainda fazemos algo semelhante quando falamos do sol que “nasce” e do sol que “se põe”.
Semelhantemente, a linguagem e as formas de pensamento neotestamentárias estão arraigadas tanto na cultura judaica como na helenística, e tudo indica que Paulo fez uso do vocabulário filosófico grego. No entanto, o processo pelo qual os autores bíblicos se utilizaram de palavras e imagens de seu meio cultural, usando-as criativamente, estava sob controle do Espírito Santo, permitindo-lhes depurá-las de implicações falsas ou nocivas, transformando-as, assim, em veículos da verdade e bondade.
Esses fatos indubitáveis levantam uma série de questões com as quais temos lutado. Mencionamos cinco:
a. A natureza da inspiração bíblica
Será que o uso que os autores bíblicos fazem de palavras e idéias extraídas de sua própria cultura é incompatível com a inspiração divina? Não. Já fizemos notar os diferentes gêneros literários presentes na Escritura, e as diferentes formas do processo de inspiração que implicam. Por exemplo, a forma da obra dos profetas, que recebiam visões e palavras do Senhor, é bastante distinta da utilizada nos relatos de historiadores e epistológrafos. No entanto, foi o mesmo Espírito que inspirou a todos. Deus usou o conhecimento, a experiência e a bagagem cultural