crônica
Já é dezembro. Estou sentada na poltrona de um avião a caminho da casa da minha avó paterna, na Argentina. Como de costume, sem meus pais. Vejo muitas pessoas dormindo e tento dar uma cochilada também. Acabo dormindo profundamente.
Desculpa, a senhorita irá querer seu lanche?
Acordo com a comissária de bordo me entregando o lanche. Após comê-lo, não consigo mais dormir, então, decido ficar observando as nuvens pela janela da aeronave.
Foi então que, ao olhar uma nuvem com formato de um cavalo, me lembrei dos últimos momentos em que eu e meus pais tivemos como uma família.
Tinha oito anos. Íamos passar as festas de fim de ano com a família de meu pai, como sempre fazíamos. No avião, papai decidiu inventar um jogo para nos entreter... Tínhamos de olhar as nuvens e dizer com o que elas se pareciam. Estávamos felizes, sorriamos o tempo todo. O jogo e a alegria nos cativaram tanto que nem percebemos a hora passar e, quando vimos, já estávamos pousando. Ao entrar no aeroporto, lá estavam meus avós, ansiosos e emocionados com a nossa chegada. Vovó me abraçou tão forte, mas tão forte, que mal conseguia respirar.
Passamos um belo natal e um ano novo melhor ainda, com a família toda reunida, meus tios, meus pais, meus avós, meus bisavôs, meus tios-avôs e o mais novo membro da família, Lola, a cachorra mais linda e especial do mundo. A casa estava sempre lotada, como eu gostava... Éramos uma família.
Porém, as férias estavam terminando. Era hora de voltar para casa. Na volta, já não era só alegria, começaram a surgir preocupações com contas, trabalhos e casa. Em São Paulo, os problemas começaram aparecer e meus pais já não se davam tão bem como antes, todo dia havia uma discussão diferente. Eles não se suportavam mais, nossa vida estava um inferno. Até que, não aguentando mais, meu pai sai de casa, anunciando a separação à minha mãe e, ao mesmo tempo, minha avó materna havia sido diagnosticada com leucemia.
Foi uma tragédia. Minha avó