Crônica Reflexiva
Que drama enorme em fazer o que tem de ser feito. Que dificuldade em me aceitar. Quanta lamentação. O espaço vago que existe dentro de cada um em momentos de transição da vida é tão branco, tão preto, tão a cor que eu quiser... Mas é preciso querer. E meio sem saber que cor escolher - e o que escolher - tentei antes de colorir, me encontrar, me enxergar no vão do qual não existe universo ao redor, apenas eu e minhas vontades.
E nesse abismo aterrorizante que é a companhia de mim mesma, pude encontrar alguém que há tempos não via. Alguém que entendeu a inutilidade da procrastinação, que percebeu a importância da compaixão pelo próximo, mas que também captou a quantidade necessária de tal sentimento para que não afete a si mesma. Aquela pessoa era absurdamente feliz, se realizava com simples atos, e transformava tornados em mares calmos. E que mares. Mergulhava neles intensamente, com prudência, consciente, mas sem medo de me afogar.
Esse alguém me fez retomar sentimentos que há tempos estavam guardados. Guardados porque alguém fazia entender que eles deveriam permanecer assim, guardados porque eu insistia em me importar com opiniões alheias, porque achava que dessa maneira seria melhor para: minha imagem, eu, todos. Que hipocrisia essa ideia de idealizar a imagem de si para os outros, e guardar a verdadeira para nós mesmos.
Quando aquela pessoa surgiu no abismo, o universo se voltou ao meu redor trazendo junto quem sempre fui. Mas foi preciso viver nessa desordem de pensamentos só meus, sem visualizar nada além disso, que me encontrei. E a partir de então, faço diariamente aquilo que é da minha feição, e não o que os outros esperam que seja dela. Percebi que desse jeito, a frequência de viver em mares calmos é bem maior do que em turbulências constantes que eu mesma criava. E foi querendo mudança que sem perceber, ela já havia sido feita dentro de mim, e por mim.