Crônica Artistas de Rua

Crônica:
Em palcos listrados

Abrem-se as cortinas. Público aplaude. Espetáculo. Encena. Pula. Canta. Dança. Malabares. Festa. Fecha-se. Ovação. A sequência é simples, porém ao mesmo tempo complexa. Para um artista, esse é o espetáculo. A encenação ganha seu ápice quando aquele que está ali no palco recebe sua recompensa: o reconhecimento do público por um trabalho desenvolvido com tanta paixão, tanta entrega de si.
Essa cena é comum até para os mais simples artistas. Todos aqueles que entraram no mundo das artes para ter o seu público, o seu momento de estrela. Desde um circo longínquo até aos teatros mais bem desestruturados do mundo, sempre haverá alguém para celebrar, aplaudir, reconhecer o trabalho do outro lado. Sempre? Não é bem assim.
Há um tempo que observo certos artistas pelas ruas do Recife. Não são aqueles de muro de grafitagem ou os que se engajam em uma campanha publicitária para demonstrarem a sua arte. Este que vos falo são aqueles muitas vezes nem percebidos pelos transeuntes nas avenidas arborizadas da cidade. Eles estão lá, atravessam nosso caminho, mas em muitos casos nem percebemos.
Exato. Falo dos artistas dos semáforos, daquele instante tão somente dedicado à pressa, ao ir-e-vir dos carros, dos pedrestes. Ora, você pode me questionar: “mas você está falando daqueles meninos de rua que tentam arrumar um trocado por um “simples” malabarismo?”. Poderia até exemplificar com estes, que, acredito, guardam em sua essência a vontade de sobreviver com a arte. Mas trato aqui dos profissionais. Estes que guardam aqueles minutos para tentar demonstrar uma arte...para ninguém.
Choca escrever forte assim. Mas pense: na maioria das vezes, quanto do seu tempo você despendeu para observar e agraciar a arte ali na sua frente, naqueles poucos minutos? Quantos aplausos foram escutados? Quantas congratulações? Poucas, acredito que seja essa a resposta.
O “palco” para esses artistas é infortúnio. Insólito, para dizer a verdade. Pessoas vão e vem sem ao