Cronicas: características e marcas
Paulo Eduardo de Freitas
(Revista Discursos e Identidade Cultural)
A crônica cursou um longo caminho até se firmar como gênero literário, ainda que dado como um “gênero menor”, como observa Antonio Candido.
A ‘crônica’ não é um ‘gênero maior’. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. “Graças a Deus”, — seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós. (CANDIDO, 1981, p. 5).
A palavra “crônica” e suas variantes chronica, caronica, cronicão e crônicon estão etimologicamente ligadas ao termo Chronos, deus da mitologia grega que representa o tempo. Através de sua transposição para o latim (de Chronos para Saturnus, ou seja, “saturado de anos”), o termo passou a significar o registro dos fatos contemporâneos. Assim, a crônica assume o papel de registro da realidade social das comunidades humanas. Além da crônica medieval, que empresta, sobretudo, seu nome ao gênero aqui em estudo, outros moldes de narrativas europeias, ligados ao surgimento da imprensa como divulgadora de textos literários, principalmente a partir do século XVIII, são extremamente importantes na construção do gênero.
Na primeira acepção, a crônica assume o papel de registrar os fatos reais ao longo de sua evolução no tempo. Tal sentido pode ser facilmente identificado nas crônicas medievais portuguesas, já que estas visam primordialmente apresentar determinadas sequências de fatos organizados na ordem temporal de sua ocorrência original. Assim, cronistas como Fernão Lopes, Gomes Eanes de Zurara, Ruy de Pina, entre outros, procuraram desenvolver um trabalho de compilação de situações e temas relacionados principalmente ao paço real e aos caminhos e descaminhos da expansão ultramarina de Portugal a partir do século