CRIME E MODERNIDADE
Quem é responsável por tanta violência em nossa sociedade?
Ao longo da história do século XX, nós verificamos um confronto de dois projetos: o socialista, centrado no conceito de companheiro; e o capitalista, centrado no conceito de cidadão. Esses projetos fracassam com o surgimento do neoliberalismo. Torna-se, então, hegemônico não mais o cidadão, não mais o companheiro, e sim o cliente. E quem é cliente? Cliente é quem tem renda, quem tem poder de compra. Os indivíduos que não têm renda não contam. Alguns chamam essa população de "underclass", subclasses. Mas o sociólogo espanhol, Manoel Castells utiliza o termo "camadas descartáveis", camadas irrelevantes, para designar um conjunto de indivíduos que estão à margem, sem a menor perspectiva de se inserir na sociedade. São camadas sociais que não são mais necessárias, ou seja, são os excluídos. Vivem dos benefícios do estado previdenciário, ou então procuram de certa maneira se inserir nesta economia subterrânea, ou seja, na indústria do crime, do narcotráfico, do crime organizado. E esta inserção nesse mundo crime torna-se um modo de vida típico desta camada chamada de subclasses.
Portanto, a lei do mercado, a competição, o individualismo tem a ver com o surgimento desta indústria do crime?
Sim, porque o processo desta nova sociabilidade é um processo que busca economicizar (tornar econômico) aquelas relações que se estabeleciam em outras esferas: relações que se manifestavam na esfera da cultura, da política, da educação e na própria esfera emocional. Hoje, por exemplo, se fala em déficit de democracia, ou seja, isto é economicizar relações políticas; fala-se também em déficit emocional. Quando acaba um relacionamento amoroso entre um garoto e uma garota, o que normalmente ela diz? "Veja só, e eu que investi tanto naquele cara", ou seja, aqui nós temos um